Um pequeno extrato do Artigo ......

Visão Panorâmica do Evangelho de João

Cláudio Calovi Pereira 
calovi@alum.mit.edu
Julho de 1999

1) PROPÓSITO DO LIVRO:

O autor do evangelho declara seu propósito em Jo 20:30,31:
Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Nesse trecho, nós temos o seguinte: a) Jesus realizou muitos sinais que não estão registrados no evangelho de João; b) aqueles que João registrou foram por ele selecionados com um propósito definido.
Desse modo, notamos que todo o evangelho possui uma unidade baseada num objeto definido: a pessoa do Senhor. Nele, uma nova revelação é dada ao mundo, e nessa revelação, um novo poder é oferecido a cada ser humano. Sendo colocada no final do livro, a declaração parece sugerir uma leitura de todo o texto primeiro, para que o próprio leitor possa então percebê-la como verdadeira.
Estes, porém, foram registrados para... (aqui temos a finalidade pela qual estes sinais foram selecionados e descritos por João): 1) Conduzir-nos à pessoal no Jesus histórico como “o Cristo” (ou o Messias, para os Judeus) e como o Filho de Deus (para os gentios); 2) através da fé, conduzir-nos a ter vida em seu nome. Eis o objetivo duplo deste evangelho: que resulta em vida.
Vejamos algumas expressões básicas destes versículos-chave do evangelho de João (20:30,31), que caracterizam o livro todo:

A) Sinais: a palavra grega neste caso é “semeion”, traduzida em português como “sinal”. É diferente da palavra “dinamis”, cuja tradução é “milagre”. A palavra “sinal” (semeion) nos fala de um poder ou significado que está por trás de um evento extraordinário, sendo mais importante que ele. Embora “sinal” apareça em outros livros do NT, João usa somente esta palavra (e nunca “milagre”). Desse modo, os milagres em João não são apenas manifestações sobrenaturais de poder, mas a expressão material de verdades espirituais. O milagre descrito é a demonstração do poder apresentado no ensino.

Desse modo, em cada sinal veremos a revelação de um aspecto da pessoa do Senhor. Vejamos os sinais no evangelho de João:
* Jo 2:1-11: água transformada em vinho: Jesus efetua instantaneamente uma transformação que leva meses para se realizar. Ele revela que não está limitado ao curso natural das coisas. Esse sinal nos fala de transformação: nossa vida velha (água insípida, incolor) é transformada ao recebermos a Sua vida (vinho), que é fonte de alegria, assim como inextinguível (as seis talhas de pedra).
* Jo 4:46-54: a cura do filho do oficial do rei: ao curar um menino que estava a 30 km de distância, Jesus revela-se o Senhor sobre o espaço, pois seu poder não conhece limites de distância.
* Jo 5:1-9: a cura do paralítico no tanque de Betesda: quanto mais longa (38 anos) é uma enfermidade, mais difícil é curá-la. Mas Jesus mostra ser Senhor sobre o tempo e todas as suas consequências ao curar este homem. Ainda que muitos anos de trevas nos tenham paralizado completamente, Ele é poderoso para nos restaurar o vigor e a força.
* Jo 6:1-14: os cinco mil alimentados com 5 pães e dois peixes. Aqui o Senhor se revela como o Senhor da quantidade, capaz de suprir tudo o que nos é necessário. Ele é o que veio para dar vida abundante.
* Jo 6:16-21: Jesus anda sobre o mar tempestuoso: O Senhor revela-se como Senhor sobre todas as leis naturais deste mundo.
* Jo 9:1-12: a cura do cego de nascença: Jesus revela-se como o Senhor sobre as desgraças da condição humana. Nós somos cegos de nascença, e no máximo podemos tornar-nos religiosos. Mas Ele vem abrir-nos os olhos para que possamos ve-lo e adorá-lo. Ele é o Senhor que concede visão espiritual.
* Jo 11:1-46: a ressurreição de Lázaro: Jesus revela-se como o Senhor sobre a morte.
B) Crer: Eis outra palavra importante no evangelho de João. Este verbo aparece 98 vezes em João, comparado com 11 vezes em Mateus, 15 vezes em Marcos e 9 vezes em Lucas. A ênfase na fé surge no primeiro capítulo e é encontrada em todas as partes do livro, culminando na lição dada a Tomé (20:29). Não se trata de uma concordância intelectual, ou de acharmos que o argumento do autor é correto, mas de aceitar as implicações da revelação de Jesus Cristo como Filho de Deus, que implica em uma entrega pessoal à Ele, para que se possa experimentar as realidades espirituais nele contidas (“vida”).

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